São Paulo, SP 2/7/2020 –
Esse metal tem características intrínsecas que o torna um ativo ideal para a diversificação e rentabilidade de qualquer portfólio de investimentos.
Ao contrário do papel moeda ou outros ativos, o ouro manteve seu valor ao longo do tempo, pois entre outros motivos, ele não pode ser “diluído” pelos bancos centrais. Este elemento químico é realmente raro, só existem 199 mil toneladas sobre a Terra. Pode parecer muito, mas é o equivalente ao que a Vale produz em 8 horas de minério de ferro. Se juntar todo este metal disponível e transformá-lo num grande cubo maciço, este terá apenas 21,5 metros de comprimento.
O Ouro (Au) tem propriedades químicas e físicas diferenciadas: ele é dúctil, não reage com o oxigênio e assim não se oxida. Isso significa dizer que todo ouro minerado pelo homem ainda está circulando pelo mundo.
A reciclagem é um processo importante nesse mercado: um objeto é transformado em joias, derretido e transformado em outras joias infinitas vezes. É possível, inclusive, que adereços de antigos monarcas ou as próteses dentárias do famoso pirata Barba Negra estejam penduradas no pescoço de alguém, guardadas em algum banco central ou até mesmo dentro de um iPhone (tem 0,034 gramas de ouro).
Ainda assim, a mineração responde por quase 75% da oferta deste metal, que, aliás, cresceu significativamente na última década. São incrementadas 3,4 mil toneladas ao ano ao estoque total, em média. Entretanto, novas descobertas são cada vez mais raras e o cronograma de desenvolvimento e ciclo dos projetos de mineração são muito longos, geralmente levando mais de uma década entre a descoberta e o início da produção. De fato, existem inúmeros lugares em que há ouro, mas quase sempre em baixíssimas concentrações, o que inviabiliza sua mineração mesmo considerando uma cotação elevada do metal.
A maioria dos especialistas consideram cenários que a oferta permanecerá estável nos próximos anos ou que sofrerá uma ligeira queda. Entretanto, para analisar as perspectivas de preço desse metal, é mais importante focar no lado da demanda, já que é aí onde os cenários podem divergir substancialmente.
Considerando, o atual mix de uso para o ouro (48% joias, 29% investimentos privados, 15% bancos centrais, 7% tecnologia) os principais drivers de preços são:
1) Expansão econômica.
Durante períodos de expansão econômica é a demanda por joias que suporta o preço do ouro no longo prazo e evita a volatilidade excessiva. A China e a Índia são os principais consumidores, passando de 22% do consumo mundial em 1990 para 58% em 2019. O ouro está muito ligado à cultura desses dois países, principalmente a Índia. Combinadas essas duas nações tem mais de 2,5 bilhões de habitantes e suas economias crescem vigorosamente. mesmo com o Coronavírus espera-se que estas não sofrerão recessão neste ano.
2) Risco e incertezas econômicas.
É durante crises e incertezas que a rentabilidade desse metal costuma bater todos os demais ativos. Ele tem correlação negativa com os ativos de risco: durante a crise de 2008 o S&P 500 chegou a cair 54,5%, já o ouro subiu 25,6%. Essa característica é o que o torna importante em qualquer portfólio. Crises econômicas são inerentes ao capitalismo, e nunca foi possível prever o momento exato de sua chegada.
3) Estratégia de diversificação dos bancos centrais.
Desde 2010 e mais intensamente a partir de 2016, muitos países emergentes, principalmente China e Rússia, estão aumentando substancialmente seus aportes em ouro, ainda que o metal represente uma pequena fração das reservas internacionais. Existem preocupações crescentes sobre o poder do dólar como reserva de valor e atualmente nem todas as transações internacionais são feitas em dólar. Possuindo ouro esses bancos centrais também se protegem de uma eventual guerra cambial.
4) Política Monetária.
Hoje em dia existem, globalmente, 19 trilhões de dólares investidos em títulos soberanos que rendem taxas negativas, ou seja, menos que a inflação. Se está vivenciando um cenário persistente de juros baixos, o que reduz o custo de oportunidades de carregar ouro. O Coronavírus acentuará esta situação.
5) Acesso ao mercado.
É cada vez mais simples comprar ouro indiretamente. Nos Estados Unidos surgiu uma infinidade de ETFs e fundos exclusivos de ouro partir de 2010. No Brasil, estes fundos chegaram a partir de 2018 e devem surgir em breve ETFs do tipo
Importante destacar que muitos desses drivers são antagônicos, haja vista que existe uma demanda de natureza pró-cíclica por ouro (joalheria) e outra de natureza anticíclica (investidores). Essa é a principal característica que torna o ouro um ativo descorrelacionado ideal para a diversificação dos portfólios de investimentos em geral.
Autor: Caio Barbuio
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