O futuro dos carros autônomos foi um dos temas abordados em março deste ano, no “South by Southwest” (SXSW), o maior festival de tecnologia e inovação do mundo, que acontece anualmente no Texas (Estados Unidos).  A CEO da General Motors, Mary Barra, e Kyle Vogt, CEO da Cruise – subsidiária da GM – uma das empresas pioneiras no setor, apostam em um cenário otimista, com veículos que proporcionam “zero acidentes, zero emissões e zero congestionamento”.  

Valter Santiago, coordenador acadêmico da graduação em engenharia mecatrônica do Centro Universitário FIAP, acredita que apesar de parecer futurístico, os carros que “andam sozinhos” não estão distantes da realidade. “Quando olhamos para grandes corporações tecnológicas como a Mercedes Benz, a Uber, o Google, já vemos o desenvolvimento e o funcionamento desses veículos tanto para transporte de pessoas quanto para sistemas de delivery em alguns países como Estados Unidos, China e Japão”, afirmou o coordenador. 

No Brasil, já existem algumas unidades de Tesla, marca referência na tecnologia de veículos autônomos, importadas de forma independente pelos donos dos automóveis. Porém, de acordo com professor Valter, já existem projetos de desenvolvimento destes carros em solo brasileiro: “Aqui na FIAP, inclusive, temos um projeto para os alunos do quarto ano de engenharia mecatrônica, no qual eles desenvolvem do zero toda a automação para o veículo andar numa pista identificando placas, pessoas, faixas e toda a sinalização normal de trânsito”.  

 No entanto, o professor deixa claro que o carro construído pelos alunos da graduação não é da mesma escala que aqueles que transportam passageiros e andam em vias públicas. “Todos os nossos testes são feitos em ambiente controlado, de forma segura. Obviamente que para o carro andar de forma perfeita, em uma via normal com outros veículos, demandaria muita calibração e uma série de testes que demorariam meses.” Por outro lado, ele afirma que os conhecimentos de engenharia exigidos são os mesmos. 

O primeiro pilar para o funcionamento pleno de um veículo autônomo é o sensoriamento de ambiente, através da instalação de câmeras, que usam visão computacional, e sensores de distância. O segundo pilar é a automação dos movimentos do carro, feita por inteligência artificial, machine learning, deep learning e processamento de imagens. 

 Para o projeto da FIAP, os estudantes usam técnicas de reconhecimento facial e de processamento de imagens além de alguns serviços também utilizados por grandes empresas como o Google Vision, o Tensor Flow e o OpenCV, e desenvolvem a inteligência artificial, que é a tecnologia essencial para a tomada de decisão do automóvel. “O carro está no meio da faixa e se depara com uma placa, então ele tem que identificar essa placa, buscar o significado num dataset e realizar a ação, e a IA toma essa decisão sempre visando a segurança das pessoas”, explica o professor Valter. 

Se por um lado os carros autônomos são uma aposta para a segurança no trânsito e podem solucionar vários problemas atuais, por outro lado novos problemas surgirão. O processamento em nuvem, por exemplo, torna o processamento do veículo mais rápido e barato, mas alguns problemas do dia a dia, como chuvas, podem afetar o sinal e a comunicação do carro e fazê-lo parar, já que ele está sem informações de como deve agir. 

Outra preocupação de especialistas da área são os crimes cibernéticos. “Muito provavelmente, esses carros serão alvos de criminosos digitais que tentarão hackear, invadir e sequestrar. Apesar de todos os estudos para evitar esse tipo de golpe, isso pode vir a se tornar realidade”, declara o professor da FIAP.   

Portanto, o desenvolvimento desse veículo não apenas é uma oportunidade para os profissionais de engenharia, que estão envolvidos no processo de construção e configuração, mas também para os profissionais de cibersegurança. “Do mesmo jeito que pensamos atualmente em formas de tornar o carro mais seguro com sistemas eletromecânicos, airbag, freio ABS e assim por diante, muito provavelmente terá uma demanda altíssima de antivírus, firewall e novos sistemas de segurança, pensando em ataques cibernéticos para carros autônomos”, conclui o coordenador. 

 

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