O Brasil registrou mais um recorde de inadimplência para a série histórica iniciada há oito anos. Em outubro de 2022, 40% dos brasileiros (quase 65 milhões) estavam com o nome negativado, conforme levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Na comparação com o mesmo mês de 2021, houve uma elevação de quase 10% no número de pessoas com as contas atrasadas. A inadimplência cresceu por dez meses consecutivos até outubro de 2022, e para começar 2023 com as contas em dia, 43% dos brasileiros pretendem utilizar o décimo terceiro salário para pagar dívidas.

O endividamento da população pode ser atribuído a diferentes fatores, sendo o aumento do preço dos alimentos indicado como o grande vilão, além da consequente redução do poder de compra do brasileiro, o desemprego, a desorganização financeira, a desvalorização do real frente a outras moedas. O CEO da Crefaz Financiamentos e Investimentos, Carlos Eduardo Navarro Ribeiro, lembra que os reflexos da pandemia da Covid-19 também contribuíram para agravar, ainda mais, esse cenário.

A quinta edição de um estudo da Serasa Experian, “Perfil e comportamento do endividamento brasileiro”, fez um diagnóstico do perfil de pessoas endividadas e os motivos que levam a essa situação. O levantamento também aponta os impactos emocionais provocados pela inadimplência. 

Entre os problemas indicados pelas mais de 5 mil pessoas consultadas pela Serasa, destaque para a insônia, que afeta 83% dos entrevistados que atribuem o problema à preocupação excessiva com as contas. As relações sociais também ficam prejudicadas, assim como a ocorrência de ansiedade, pensamentos negativos, problemas de concentração, medo e tristeza. 

Para este ano, os financiamentos concedidos pelo sistema bancário devem ter um crescimento de 8,3%, o que representa um recuo na projeção anterior (8,4%), segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Esse levantamento foi realizado pela entidade no período de 13 a 20 de dezembro de 2022 junto a 20 bancos.

A inadimplência tem efeito direto na oferta de crédito oferecida pelo mercado, cuja tendência é de diminuição da oferta e aumento dos juros praticados quando o número de pessoas endividadas cresce. “A situação prejudica, de maneira geral, a sociedade como um todo, pois afeta aqueles que têm necessidade de contratar crédito para diferentes necessidades, incluindo os microempreendedores”, aponta Ribeiro.

As pessoas que precisam negociar dívidas devem estar atentas às taxas de juros e prazos de pagamento. Para o executivo, é importante avaliar as opções de crédito, por exemplo, como o consignado, descontado na folha do pagamento, no caso de trabalhadores com carteira assinada. “Nesta categoria, as taxas são bastante reduzidas e permitem que a pessoa ajuste ao pagamento às suas possibilidades e com quitação mais rápida”, explica.

Para evitar o endividamento neste ano que se inicia, o brasileiro pode adotar alguns hábitos, como fazer uma planilha com as despesas e receitas, incluindo aquelas fixas e mensais como contas de água, luz, telefone, aluguel, condomínio, mensalidade escolar. Também é importante contemplar os custos anuais, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), além de gastos com presentes e despesas com datas comemorativas, como Dia dos Namorados, Dia das Mães, Dia das Crianças, aniversários de familiares e amigos.

Mas mais do que listar e organizar os gastos e receitas em uma planilha é indispensável conhecer os gastos, avaliar quais podem ser reduzidos e, até mesmo, excluídos das despesas, estabelecendo limites mensais e anuais. Atualmente, existem aplicativos gratuitos que auxiliam no controle financeiro, muito úteis nesse processo de organização, avaliação e redução de custos. “Estabelecer metas é outro exercício muito importante no processo de educação financeira, ainda pouco difundido no Brasil, mas indispensável para viabilizar que as pessoas possam realizar seus sonhos sem incorrer em situação de inadimplência, problemas emocionais e com a devida atenção quando o assunto é dinheiro”, destaca Ribeiro.

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